Anemia na Gravidez
A anemia na gravidez é normal, principalmente durante o 2º e o 3º trimestre. Nesta fase, o organismo da mãe experiência um aumento das necessidades de ferro, de modo a poder produzir uma maior quantidade de sangue e assegurar o desenvolvimento e crescimento do bebé. Esta é uma anemia ligeira e, se detetada precocemente e houver uma rápida reposição das reservas de ferro, seja através da alimentação ou de suplementação, os sintomas poderão ser inexistentes ou mesmo passar despercebidos.
No entanto, se existir adicionalmente um défice do aporte de ferro ou de outras vitaminas como o ácido fólico (B9) e a vitamina B12, não vai ser possível produzir em quantidade suficiente os glóbulos vermelhos necessários para a quantidade de sangue extra requerida. Passamos então a estar perante uma anemia moderada a severa. Estas formas mais graves de anemia estão já associadas a um maior risco de ocorrência de complicações sérias que ameaçam a saúde do bebé e da mãe.
O que é a anemia?
Os glóbulos vermelhos são células sanguíneas que contém hemoglobina e ferro, responsáveis pelo transporte de oxigénio e trocas gasosas no sangue. A anemia surge quando os glóbulos vermelhos não estão a ser produzidos em quantidade suficiente ou há uma diminuição da quantidade de hemoglobina e ferro, comprometendo o transporte de oxigénio quer para os tecidos da mãe quer para o bebé. Sem aporte adequado de oxigénio, o funcionamento dos órgãos e o desenvolvimento do bebé são então afetados.
Existem diversas causas de anemia, sendo que, na gravidez, as causas mais frequentes são os défices nutricionais:
- Anemia ferropénica: o tipo mais comum. O ferro é um constituinte dos glóbulos vermelhos que vai permitir a captação de oxigénio por parte destas células.
- Anemia por deficiência de ácido fólico: o ácido fólico está presente principalmente nos vegetais de folha verde, sendo essencial para o processo de produção dos glóbulos vermelhos.
- Anemia por deficiência de vitamina B12: a vitamina B12 é indispensável à produção de glóbulos vermelhos. Grávidas com uma dieta vegan e vegetariana estão mais suscetíveis a este tipo de anemia, já que a sua presença é mais marcada em alimentos como os ovos, a carne e os lacticínios.
Como tratar e prevenir?
A Direção Geral de Saúde (DGS) recomenda a suplementação com uma dose diária de 30 – 60mg de ferro e de 400µg de ácido fólico, em todas as mulheres e durante toda a gravidez, a iniciar, se possível, antes da conceção. Se a mãe adota uma dieta vegetariana/vegan deverá suplementar adicionalmente com Vitamina B12 e Vitamina D.
Uma alimentação adequada, equilibrada e nutritiva, constituída por alimentos ricos em ferro, B12 e ácido fólico, constitui outro método indispensável à prevenção da anemia:
- Carnes magras
- Peixe
- Leguminosas
- Legumes e vegetais de folha verde
- Frutos secos
- Cereais fortificados
- Batata
A ingestão de alimentos ricos em vitamina C (sumo de laranja, tomate, morangos), em conjunto com alimentos ricos em ferro, promove uma absorção mais eficaz do ferro no organismo. Pelo contrário, a ingestão de lacticínios na mesma refeição deverá ser evitada, já que diminui a absorção de ferro.
Se a anemia persiste apesar do cumprimento destas medidas de prevenção, poderá ser necessária suplementação adicional ou investigação médica especializada.
Sinais e sintomas
Os sinais e sintomas de anemia são, geralmente, equivalentes aos sintomas gerais e comuns experienciados pela mãe durante a gravidez, mesmo na ausência de anemia. Por este motivo, a mãe poderá não se aperceber dos sintomas ou até mesmo desvalorizá-los. Os sintomas mais comuns incluem:
- Fadiga e fraqueza
- Palidez (pele, lábios, unhas)
- Palpitações
- Falta de ar
- Tonturas
- Dor no peito
- Extremidades frias (mãos e pés)
- Dor de cabeça
- Dificuldade na concentração
De modo a evitar o subdiagnóstico, isto é, que a anemia passe despercebida, é essencial um seguimento atento e frequente nas consultas de vigilância da gravidez, onde são efetuadas trimestralmente análises sanguíneas para rastreio de alterações nos padrões hematológicos. Por outro lado, é essencial que a mãe esteja alerta para o surgimento de algum destes sintomas ou para o seu agravamento se já os experienciava como alteração comum da gravidez, de modo a reportar atempadamente em consulta médica.
Causas e efeitos na gravidez
Para além do aumento das necessidades no transporte de oxigénio nos dois últimos trimestres, existem outras condições que poderão predispor para o surgimento de anemia na gestação:
- Anemia prévia à gravidez
- Ciclos menstruais com hemorragias intensas prévios à gravidez
- Dieta vegetariana/vegan
- Gestações com pouco espaçamento temporal
- Gravidez múltipla (gémeos)
Como já referido, a anemia, quando detetada e tratada atempadamente, é facilmente controlada, sem comprometimento da saúde da mãe e bebé. Quando o tratamento não é adequado ou cumprido, ou se estivermos perante uma forma mais grave anemia, surge um maior risco de ocorrência de complicações.
Na anemia ferropénica, surge um aumento do risco materno de depressão pós-parto, hemorragia durante e após o parto e infeção. No recém-nascido, existe um maior risco de parto prematuro e de baixo peso ao nascimento.
No caso de deficiência de ácido fólico, existe também um risco acrescido de parto prematuro e de baixo peso ao nascimento. Quer a deficiência de ácido fólico quer de vitamina B12 provocam ainda defeitos no desenvolvimento do tubo neural (espinha bífida).
Anemia na Amamentação
A mamã com anemia pode amamentar?
A presença de anemia não constitui qualquer obstáculo ou contraindicação à amamentação. O aleitamento deve ser sempre incentivado, pois o leite materno vai constituir, durante os 6 primeiros meses após o nascimento, a principal fonte energética e calórica do recém-nascido.
Relativamente à mãe, a produção de leite contribui para a redução dos seus níveis de ferro. No entanto, enquanto estiver a amamentar, não irá menstruar; ou seja, se por um lado existem perdas de ferro pelo leite, por outro não ocorrem as perdas sanguíneas significativas associadas ao ciclo menstrual, contribuindo para um equilíbrio dos níveis e reservas de ferro. A mãe deve também assegurar o cumprimento das medidas de prevenção de anemia (alimentação adequada e suplementação se necessário). A toma de suplementos de ferro, vitamina B12 e ácido fólico é completamente segura durante a amamentação.
Se não for possível amamentar, existem ainda fórmulas infantis enriquecidas em ferro, adaptadas às necessidades nutricionais do bebé.
O que poderá estar na sua origem?
As principais causas de anemia na amamentação são a anemia na gravidez e a hemorragia durante ou após o parto. Nestes casos, é indispensável avaliar a severidade da anemia e verificar se será necessário continuar ou iniciar suplementação adequada.
Também a hipertensão arterial na gravidez, a diabetes gestacional e o tabagismo constituem fatores de risco.
No entanto, os níveis de ferro maternos não são o único fator determinante dos níveis de ferro do recém-nascido. No caso dos bebés prematuros, não houve tempo suficiente para que criassem as suas próprias reservas de ferro, o que geralmente acontece durante as últimas semanas de gravidez. Por outro lado, o aporte de ferro poderá também ficar comprometido quando o cordão umbilical é cortado prematuramente.
O Scientific Advisory Committee on Nutrition aponta ainda como fator de risco os casos em o aleitamento materno não é exclusivo e é dado ao bebé leite de vaca (menos rico em ferro e dificulta a capacidade de absorção).
A anemia poderá ter influência na qualidade do leite?
A anemia poderá provocar na mãe não só uma produção de leite com menores concentrações de ferro, como também alterações no seu sistema imune, nomeadamente mastite, obstrução dos ductos mamários e hipersensibilidade do mamilo. Todos estes fatores constituem um obstáculo ao processo de amamentação, com um impacto negativo na qualidade e quantidade do leite materno.
No entanto, até aos 6 meses, o aporte de ferro do bebé é assegurado pelas reservas adquiridas durante o 2º e 3º trimestres da gravidez e pelo leite materno. O leite constitui uma fonte muito eficaz de prevenção de anemia, na medida em que independentemente dos baixos níveis de ferro da mãe, existe uma alta biodisponibilidade. Isto significa que o bebé amamentado necessita de menos ferro, pois a sua absorção é muito mais elevada quando provém do leite materno.
Assim sendo, apenas em casos extremos é que o bebé desenvolve anemia em resultado da anemia da mãe. Geralmente, o leite materno assegura as necessidades nutricionais para o crescimento e desenvolvimento do bebé, provocando apenas uma depleção dos níveis de ferro da mãe.
Em primeiro lugar, é importante manter uma vigilância médica ativa durante o período de amamentação, principalmente se a mãe já tinha anemia durante a gravidez ou se ocorreu hemorragia durante ou após o parto. As medidas de prevenção a nível da alimentação deverão continuar a ser cumpridas; poderá também ser necessário manter a suplementação.
Em relação ao recém-nascido, se não for possível amamentar, deverá optar-se por uma fórmula infantil enriquecida em ferro. A partir dos 6 meses, idade em que se inicia a diversificação alimentar, há um aumento das necessidades nutricionais e o leite materno deixa de ser a fonte energética preferencial. Também as necessidades de ferro são superiores, requerendo a introdução de proteína animal não láctea na dieta, como peixes magros e carnes brancas que poderão ser adicionados à sopa. Nesta fase, é também importante introduzir a papa de cereais com glúten e enriquecida em ferro.
A DGS não recomenda dar leite de vaca antes dos 12 meses, de modo a evitar anemia por deficiência de ferro.
Se os pais pretendem que a diversificação alimentar da criança consista também de uma dieta vegetariana/vegan, é necessário suplementar com Vitamina B12, Vitamina D, ferro e zinco.